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  • Mirna Wabi-Sabi

Argentina: Javier Milei’s faux anarchism and blaring support for Israel

Updated: 4 days ago

In Argentina, Javier Milei is eager to support Israel’s invasion of Gaza and to follow Trump’s footsteps in moving the embassy to Jerusalem.

Showing how Javier Milei’s employment of the term Anarchism is nonsensical doesn’t take much effort, but nonsense is highly electable in our era. For an anarchist to run for president, he would be seeking a position he doesn’t believe should exist, and would be ideologically committed to not doing the job. As Milei campaigns and wins his bid in Argentina, he is, however, committed to doing a job as head of state, despite calling himself an anarchist. The commitment is to instate the freest of capitalist markets and keep the government as small as possible – without his own job seizing to exist. This means, out with regulations and ministries, in with USD stocks and security forces – to protect private assets. How can an ironclad relationship with the USA and Israel, which are his first confirmed international trips since the election, help him achieve that?

Read the article in English, in full, here.


O falso anarquismo de Milei e seu apoio estrondoso a Israel


Mostrar como o uso do termo Anarquismo por Javier Milei é absurdo não exige muito esforço, mas o absurdo é altamente elegível em nossa era. Para um anarquista concorrer à presidência, ele estaria buscando um cargo que não acredita que deveria existir, e estaria ideologicamente comprometido em não fazer o trabalho. À medida que Javier Milei faz campanha e vence a sua candidatura na Argentina, ele está, no entanto, empenhado em fazer um trabalho como chefe de Estado, apesar de se autodenominar anarquista. Seu compromisso é instaurar o mais livre dos mercados capitalistas e manter o governo o menor possível – sem que o seu próprio emprego deixe de existir. Isso significa acabar com regulamentos e ministérios, e exaltar stocks em dólares americanos e as forças armadas – para proteger bens privados. Como uma relação inquebrável com os EUA e Israel, que são as suas primeiras viagens internacionais confirmadas desde as eleições, pode ajudá-lo a alcançar esses objetivos?

A estratégia de Milei para gerar riqueza e conter a inflação é privatizar tudo, e isso já sacudiu a bolsa de valores nos EUA. Segundo a Reuters, o seu plano de vender a YPF, a empresa petrolífera nacional, já fez com que suas ações subissem 40% desde a vitória eleitoral. “A YPF é a maior empresa petrolífera da Argentina e supervisiona o desenvolvimento da Vaca Muerta, a segunda maior reserva de gás de xisto do mundo e a quarta maior reserva de óleo de xisto.” A dolarização da Argentina tornará esse tipo de venda ainda mais conveniente para os estrangeiros. Ao mesmo tempo, a privatização desses bens públicos estabilizará a dolarização.

Pelo menos é nisso que Milei está apostando, e ele precisa que funcione por vários motivos. Um deles é que a YPF está sob escrutínio judicial pela forma como foi nacionalizada em primeiro lugar. Uma sentença de 16 bilhões de um tribunal dos EUA paira sobre a cabeça da empresa devido à “apreensão” de ações de investidores minoritários em 2012.

Outra razão pela qual Milei precisa que esse plano funcione é que a Argentina é o país que mais deve dinheiro ao FMI no mundo. Se investimento do FMI, cujo objetivo é ajudar “países de baixo rendimento” a permanecerem ativos no mercado capitalista global, fracassou, será que entrar de cabeça no mercado dolarizado e privatizado funcionará como solução?



Quando se trata de conflitos na Ásia Ocidental, a discussão sobre o petróleo é um clichê ultrapassado. Mas se há fumaça, temos que pelo menos considerar a possibilidade de que também há fogo. A escalada dos ataques à Palestina levantou preocupações sobre os preços e o fornecimento global de petróleo. Se o Irã, “o quarto maior fornecedor de petróleo da OPEP”, se envolver (ainda mais) nesse conflito, e, digamos, os EUA forem encorajados a decretar sanções, seria pertinente começar a conceber um plano para lidar com a diminuição do volume de petróleo que está circulando. A revista Time publicou um artigo no final de outubro argumentando que as sanções ao petróleo iraniano são a chave para a “paz” no “Oriente Médio”, estimando que as vendas de petróleo constituem 70% das receitas do governo do Irã.

Enquanto isso, Israel tem debatido o potencial de extração de quantidades significativas de xisto betuminoso há algum tempo, uma vez que se acredita que 15% do território israelense esteja em leitos desse xisto. Talvez não seja uma coincidência que o novo presidente da Argentina queira reforçar a sua relação com Israel enquanto tenta livrar-se da YPF, que já foi descrita como “a jogada de xisto mais atraente fora dos EUA”.

A relação política e econômica entre a Argentina e Israel não começou com Milei. Perón já tentou conquistar os EUA através de acordos com Israel. Assim, ele acreditou que “remover[ia] o estigma” de que a Argentina tinha se tornado um porto seguro para nazistas após a Segunda Guerra Mundial, enquanto também abriga a maior população judaica da América Latina. Desde então, Israel forneceu equipamento militar à Argentina antes e durante a Guerra das Malvinas contra a Grã-Bretanha, o que se argumenta ser devido à animosidade extrema de Menachem Begin com o mandato britânico da Palestina.

Hoje, Milei está ansioso para apoiar a invasão de Israel em Gaza e para seguir os passos de Trump na mudança da embaixada para Jerusalém. Mas mesmo antes da sua vitória, a empresa nacional de água de Israel, Mekorot, já tinha recebido “influência significativa” sobre como os recursos hídricos são atribuídos em várias províncias da Argentina. Depois de ver como essa empresa abordou o abastecimento de água à Palestina, muitos argentinos estão indignados não apenas com a presença dessa empresa no seu próprio país, mas também com o que ela tem feito no exterior.

No Brasil, quando Bolsonaro abanou uma bandeira israelense num protesto, os representantes da Confederação Israelita do Brasil (Conib) foram rápidos a rejeitá-la como representativa da posição política da diáspora judaica no país em geral. Não está claro se o mesmo pode ser dito sobre a população judaica argentina. Mas uma coisa é certa: o fanatismo de Milei com Israel não tem nada a ver com o anarquismo, e tudo a ver com o seu amor implacável pelo capitalismo norte-americano. Me parece que ele instrumentaliza a religião para atingir objetivos econômicos, e isso muito provavelmente será às custas de argentinos de todas as religiões, enquanto ele agita sua motosserra da austeridade.

As ideologias anarquistas e libertárias visam combater o controle governamental sobre a sociedade, mas o anarquismo nunca significou que esse controle caísse nas mãos de uma instituição ainda mais problemática – o mercado global de ações. É por isso que, historicamente, o anarquismo se desenvolveu em resposta à direção insustentável que a industrialização capitalista tomava no século XIX (em direção à pobreza generalizada). Ao se inspirar no fato de que várias civilizações indígenas prosperaram sem o capitalismo e o Estado, ficou claro para os anarquistas que outro mundo é possível. Acelerar na direção de um capitalismo industrial sem regulamentação é bastante contrário aos princípios do anarquismo, porque apenas agrava a questão da desigualdade econômica.

Inegavelmente, a Argentina está numa situação financeira difícil e o seu novo presidente planeja resolvê-la com uma versão ainda mais extrema do sistema financeiro que não deu certo até agora. Como uma personalidade televisiva com ideias econômicas explosivas, Milei conquistou os corações de um eleitorado que está ansioso para preservar o status quo capitalista. Talvez essas ideias não sejam tão explosivas ou inovadoras como ele as faz parecer, são apenas uma tentativa desesperada de proteger um sistema de longa data que não tem dado sinais de funcionar.


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Escrito por Mirna Wabi-Sabi, fundadora e editora-chefe da Plataforma9.
Fotografado por Alisdare Hickson, sob a licença Attribution-ShareAlike (CC BY-SA 2.0)



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