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- Enclosure & The Body: An Interview With Silvia Federici
A versão em português dessa entrevista está na mini coletânea MATA das bruxas. Silvia Federici explains what function the witch hunts served in Europe during the medieval era, far beyond the superficial understandings we often have of it. This phenomenon in which primarily women—mostly poor women—were targeted, tortured, and publicly executed paved the way for the rise of the world-eating socioeconomic order. During the witch hunts, tens of thousands, potentially hundreds of thousands, of women were killed, and this event is rarely given the attention it really deserves. Written by Patrick Farnsworth, an interview with Silvia Federici Read it at Abeautifulresistance.org
- COVID no Brasil: Entre A Vida E A Morte
“As fotos desse trabalho jornalistico documental tem como objetivo maior mostrar a realidade das UTIs, a vida das pessoas nas favelas, a luta para combater o inimigo invisível — o COVID no Brasil —, os sepultamentos, a tragédia desse governo genocida, o sofrimento da população das favelas, o cotidiano que a pandemia não conseguiu mudar.” (Fabio Teixeira) Cemitério do Cajú, Rio de Janeiro. Abril 2021. Hospital Municipal São José, unidade de Duque de Caxias, dedicada exclusivamente a pacientes com coronavírus. Abril 2021. O toque de recolher sempre fez parte da vida nas favelas do Rio. Muito antes da pandemia, aparecer em público inevitavelmente significava um perigo iminente. Disputas entre facções criminosas/políticas e o uso generalizado de artilharia militar representam uma ameaça flagrante à vida e à integridade física de residentes. O som de tiro, carros da polícia, gritos, sangue e corpos nas ruas inescrupulosamente atentam a população da punição que vem abraçada com a desobediência às ordens de ficar em casa. A ameaça iminente à vida representada pelo COVID-19, no entanto, não é tão flagrante. O vírus é invisível, silencioso e mata atrás de portas fechadas em unidades hospitalares afastadas. Nesta série fotojornalística, Fabio Teixeira expõe visualmente a presença avassaladora dessas entidades microscópicas e suas esmagadoras repercussões materiais. “Tudo segue funcionando normalmente nas favelas”, diz Neila Marinho, jornalista e assessora de comunicação da Voz das Comunidades. Historicamente, “O toque recolher seria uma imposição do tráfico local para que se obedeça normas.” Mas hoje não há distanciamento social, apenas “negligência dos governos, que visaram mais a oportunidade de corrupção sem se importar com as vidas das pessoas.” No ano passado, o governador do Rio de Janeiro, Witzel, foi acusado de realizar aquisições fraudulentas de recursos de saúde contra COVID-19, e de apropriação indébita de fundos de emergência. Enquanto situações semelhantes ocorreram em outras regiões do país, como em Santa Catarina, Pará e Amazonas, o Rio continua sendo o epicentro da violência policial e da milícia de mão-de-ferro no país. Não só dinheiro é roubado do povo, ele é investido na manutenção de um sistema terrorista cujo alvo são as maiores comunidades marginalizadas. O fundador da Voz das Comunidades, Rene Silva, relatou no fim de abril que casas foram arrombadas pela polícia no Complexo do Alemão. Assim como há poucos dias, durante fogos cruzados entre a Polícia Militar e facções criminosas em comunidades por todo o Rio, 9 pessoas foram mortas em menos de 12 horas. E mais recentemente, no dia 6 de maio, uma operação no Jacarezinho matou quase 30 pessoas e fechou 3 postos de vacinação. Como fotógrafo e morador da Maré, Fabio descreve essas operações policiais, que obrigam as pessoas nas favelas a ficarem em casa com medo de serem baleadas, como um sério obstáculo para mantê-las protegidas do coronavírus. Essa faca de dois gumes é a escolha de sair para comer e se vacinar sob o risco de ser pego no fogo cruzado. Quaisquer que sejam as regras impostas pelo Estado ou pelos poderes paralelos do crime organizado, elas parecem significar um desprezo flagrante pela vida de pessoas marginalizadas. Pessoas marginalizadas, no entanto, fazem o que podem para resolver as coisas por conta própria, apesar dos obstáculos colocados por este sistema injusto. Há um ano, Thiago Firmino, da favela Dona Marta, sustenta a iniciativa de higienizar as ruas de sua comunidade, e passou a distribuir cestas básicas e produtos de higiene doméstico também. Numa entrevista de um ano atrás, ele explica que: "A favela não precisa ficar esperando o governo. Porque o governo vai esperar morrer muita gente nas favelas para depois começar a agir. Então a gente vai começar antes a fazer o preventivo. A gente não tem apoio nenhum do governo, de nenhuma empresa, e a gente está fazendo por conta própria, pedindo doações para os amigos e colaboradores para a gente continuar com essa ideia." Hoje, o trabalho deste grupo na Dona Marta é tão necessário quanto era há um ano, senão mais. Na última semana de abril, eles recolheram milhares de máscaras e doações de alimentos nos postos de vacinação, a ainda mantém as ruas da comunidade limpas para pedestres. Vendedores ambulantes, muitos dos quais vivem em favelas e comunidades, estão particularmente expostos aos perigos representados pela pandemia e pelo Estado. Em Niterói, a Associação do Ambulante (Acanit) tem dificuldade de superar o obstáculo da negligência governamental — enquanto lojas começaram a reabrir, ambulantes continuam sofrendo repressão policial sempre que tentam voltar ao trabalho. O presidente da associação, Fábio Luiz, escreveu: "[N]os sentimos injustiçados pela prefeitura em seu último decreto reabrindo estabelecimentos que atuam em locais fechados como shopping, teatros, cinemas, centros comerciais, e comércio de rua e proibiu os ambulantes que trabalham de forma individual, atendendo um cliente por vez ao ar livre. [N]ão somos contra abertura dos demais comércio nem contra o fechamento do comércio caso necessário para preservar vidas, mas somos contra abertura do "comércio de rua" sem nos incluir, pois também somos comércio de rua, e temos nossas dificuldades também. Não entendemos por que a prefeitura não nos incluiu na fase laranja junto com os demais comércio de rua, parece discriminação ou política de privilégio para um setor econômico em detrimento de outro a fim de reduzir a concorrência para os beneficiados no último decreto." Segundo Fabio Teixeira, a guerra às drogas é uma “doença crônica ridícula”, responsável por tornar a vida de trabalhadores num pesadelo — dentro e fora de casa. Acreditar que essas medidas de controle governamentais, decretos e operações policiais, têm o melhor interesse do povo como objetivo é uma armadilha na qual não devemos cair. A miséria só será exacerbada pela pandemia no Brasil, enquanto a violência policial não faz nada para mitigar os males sociais associados à indústria do tráfico de drogas nas comunidades marginalizadas do Rio. O vírus será contido — mas será que o mesmo acontecerá com a bala? [COVID NO BRASIL] _______ PLATAFORMA9 é um coletivo de mídia e editora de livros — com sede em Niterói — que publica artigos, traduz, oferece cursos de alfabetização midiática e publica livros de bolso bilíngues. MIRNA WABI-SABI é escritora, teórica política, professora e tradutora. Ela é editora na Gods and Radicals Press e editora-chefe da Plataforma9. FABIO TEIXEIRA é fotojornalista e documentarista no Rio de Janeiro. Já trabalhou para The Guardian, Folha de São Paulo, Cruz Vermelha internacional, UNICEF, entre outros.
- Sob a bandeira do progresso: a maior operação de extração ilegal de madeira do Brasil
Em 2015, o Brasil “produziu” 136 milhões de metros cúbicos de toras, no valor de cerca de 250 milhões de dólares. [Extração ilegal de madeira] No Brasil, wood e timber são a mesma palavra: madeira. Não há distinção entre o material e como o material é utilizado — não especificamos sua utilidade em sua definição. A madeira é, no entanto, utilizada com frequência em todo o mundo. Para quem não sabe, o Brasil é o único país com o nome de uma árvore. A importância dessa árvore, a pau-brasil, é destacada pela função de sua madeira, portanto, por sua importância econômica. O tronco é vermelho, a seiva é vermelha; de certa forma, ela sangra. Por Mirna Wabi-Sabi Leia esse artigo sobre extração ilegal de madeira no Brasil, em inglês, na Abeautifulresistance.org
- “Selvageria” na Guatemala vem da política externa dos EUA e não da civilização Maia
O discurso “não venha” de Kamala Harris comunicou ao povo guatemalteco, descendentes da civilização Maia, a não sair correndo de um prédio que o governo dos EUA tem incendiado. Se o governo Biden realmente deseja ajudar o povo guatemalteco em sua luta contra a corrupção e por melhores padrões de vida, ele se comprometerá a fazer mudanças em sua própria casa. Escrito por Mirna Wabi-Sabi Leia na Le Monde Diplomatique
- O investimento em transporte público que agrava a desigualdade
"O “Bus rapid transit” (BRT) do Rio de Janeiro é um exemplo claro de como o financiamento de projetos de transporte público não tem o bem-estar da população pobre em mente — mesmo quando executado legalmente." Afirmar que o investimento em transporte público vai contra os interesses dos trabalhadores de baixa renda é contra intuitivo. Espera-se que quanto mais alta a renda de uma pessoa, menor a probabilidade que essa pessoa dependa de ônibus para se locomover. Portanto, se dinheiro for gasto para fazer melhorias neste departamento, naturalmente esperamos que os interesses e o bem-estar dos usuários seja a prioridade. E, por conta dessa expectativa, sempre que ônibus são vandalizados durante um protesto, muitos enxergam essa destruição como um símbolo de ingratidão, ou um tiro no pé. Porém, será que o investimento em transporte público pode, na prática, trazer desvantagens para a população trabalhadora de menor renda? Escrito por Mirna Wabi-Sabi Fotos por Fabio Teixeira Leia na Le Monde Diplomatique
- Feminismo como islamofobia velada domina o debate sobre o Afeganistão
Islamofobia: O mundo cristão está longe de ser imune à violência de gênero. E se olharmos bem de perto, encontraremos muitos casos de violência contra as mulheres no Ocidente que raramente são contextualizados em torno da religião. Esta história de violência de gênero não é uma história do Oriente Médio, é a nossa história. Escrito por Mirna Wabi-Sabi Leia na Le Monde Diplomatique
- Como o Design entrega respostas paradoxais ao capitalismo
A crise tríplice que vivemos no momento — financeira, sanitária e climática — revela o caráter paradoxal do discurso capitalista e de sua ideia original de “progresso” e “crescimento” no design. Como relembra o livro “Design, Método e Industrialismo”, a união do Design com meio empresarial foi uma aposta da década de 1950/60, muito marcada pelo pensamento desenvolvimentista do pós-guerra. Não havia nenhuma garantia de que apostar nessa aliança era o caminho ideal para o “progresso”, tampouco havia uma preocupação com o meio-ambiente, pois na visão dominante da época, a natureza seria um recurso infinito e controlável. Escrito por Isabel Elia Leia na LavraPalavra.com
- Conspirituality: João de Deus (w/ Lisa Braun Dubbels and Mirna Wabi-Sabi)
Show Notes: a podcast with Lisa Braun Dubbels and Mirna Wabi-Sabi Whatever one’s conception of “God” is, “John of God” should now be a nauseating name. For decades, João Teixeira de Faria pretended to heal an endless stream of pilgrims to his center in rural central Brazil through the Spiritist practice of “psychic surgery.” In reality, the miracle healing claims worked to cover up an obvious truth. João was sexually assaulting and raping women, in public and in private, likely every day of his “working” life. As he did so, he amassed a vast fortune in affiliate businesses, farming operations, real estate, referral rackets, and sales of crystals and fake remedies. In this episode, we won’t retell this history, now poignantly captured by a new Brazilian-made documentary on Netflix. Instead, we’ll look at how lazy and motivated journalism shook hands with the entrepreneurial New Age to validate and accelerate the absurd claims of a monster. In addition to original reporting on how João made his mark in the U.S., Matthew is joined by former New Age publicist Lisa Braun Dubbels and Brazilian journalist Mirna Wabi Sabi to discuss the globalization of magic and abuse. Trigger warnings for this episode: rape, sexual assault, fraud, spiritual abuse. 02:17 John of Fraud 1:16:22 Interview w/Lisa Braun Dubbel & Mirna Wabi-Sabi Listen at Conspirituality.net
- Mirna Wabi-Sabi, Movimento Atreva-se Podcast
A nossa conversa da semana vai ser com a Mirna Wabi-Sabi @mirnawabisabi Mirna escolheu o livro "Interseccionalidade", de Carla Akotirenee, e foi ele o fio condutor da nossa conversa.
- Livros de bell hooks: o futuro ficará marcado por seu legado
LIVROS: É com grande tristeza que tomamos conhecimento do falecimento de uma das vozes mais influentes do feminismo — a bell hooks. bell hooks foi uma inspiração para mim como pensadora e escritora. As questões discutidas em sua conversa com Laverne Cox sobre a reprodução dos padrões de beleza patriarcais brancos, seus comentários sobre o fracasso da Beyoncé em representar as mulheres negras e sua crítica ao feminismo branco em livros como Da Margem Ao Centro sempre estiveram presentes na minha produção intelectual. Meu trabalho não teria sido o mesmo sem ela, e o futuro, se dependesse de mim, ficaria marcado para sempre por seu legado — seus livros. Recursos: FEMINIST THEORY from margin to center FEMINISM IS FOR EVERYBODY Por Mirna Wabi-Sabi
- A luta para proteger um patrimônio arqueológico e ecológico mundial
O Sambaqui Camboinhas, um dos mais antigos do país, está prestes a ser destruído pela especulação imobiliária, já existe uma placa no local como se a área — patrimônio arqueológico mundial — pertencesse à iniciativa privada. O Projeto de Lei de Uso e Ocupação do Solo pretende adensar e verticalizar a cidade de Niterói, além de permitir o avanço de construções sobre áreas frágeis, como o Morro do Gragoatá, a Lagoa de Itaipu, Sambaqui Camboinhas e o Parque Municipal de Niterói-Parnit (onde foi o canteiro de obras do Túnel Charitas-Cafubá). Uma das propostas é alterar o gabarito dos prédios para +6, isso na faixa compreendida entre as Av. Florestan Fernandes, Rua Jayme Bittencourt e Av. Beira-Mar até o limite da Faixa Marginal de Proteção (FMP) da Lagoa de Itaipu. O isso que significa? + mais gente + carros + aquecimento por fumaça + impermeabilização do solo + esgoto e isso para uma cidade que NÃO TEM ÁGUA, sem contar que o saneamento é precário, tendo o sistema Lagunar Itaipu-Piratininga como verdadeiros locais de destinação de esgoto. Uma cidade que se gaba por ter uma secretaria do clima e um prefeito ambientalista é inacreditável que a prioridade seja aprovar uma lei dessa forma (que NÃO teve debate de forma CLARA e justa com a sociedade!) Do que se resolver os problemas crônicos que são negligenciados há DÉCADAS! — Hannah, do Movimento Lagoa para Sempre Na ação do dia 5 de dezembro, também denunciamos a grave ameaça que o Patrimônio Científico, Histórico e Cultural brasileira está sofrendo. O Sambaqui Camboinhas, um dos mais antigos do país, está prestes a ser destruído pela especulação imobiliária, já existe uma placa no local como se a área — patrimônio arqueológico mundial — pertencesse à iniciativa privada. Boa parte deste riquíssimo patrimônio já foi destruída pela construção de um prédio no local, não podemos perder o que resta do Sambaqui Camboinhas, são pouquíssimos tão antigos que ainda restam no litoral brasileiro. Sambaqui Preservado, Lagoa Limpa e Para Sempre. "O Projeto de Lei de Uso e Ocupação do Solo pretende adensar e verticalizar a cidade de Niterói, além de avanço sobre áreas frágeis, como o Morro do Gragoatá, a Lagoa de Itaipu e o Parnit ali onde foi o canteiro de obras das obras do Túnel Charitas-Cafubá, com gabarito de 6 pavimentos que + cobertura e +adesão do pavimento de embasamento, virão 7 a 8 pavimentos... o que significa mais gente, mais carros, mais aquecimento por fumaça, motores, mais impermeabilização do solo, com atração e aumento de população em uma cidade que não tem água, o sanemeaneto é precário assim como as inundações são frequentes, só para citar alguns aspectos genéricos." (Cynthia do Movimento Lagoa para Sempre) Sobre a Lei A Lei estabelece normas para cada área da cidade. O Projeto chama atenção pela proposta de aumento do número de pavimentos em diferentes áreas da cidade. Só para ilustrar, ao longo da Av. Marquês do Paraná será possível construir prédios com 21+3 pavimentos; no Largo da Batalha, 9 +2; junto à lagoa de Piratininga, 10+2 e em Charitas, 15 + 2 na área em frente ao Clube Naval e 10 + 2, na área no trecho do acesso ao túnel Charitas-Cafubá. Esta proposta de verticalização é justificada com o pretenso objetivo de tornar Niterói uma cidade compacta, o que levaria a melhor aproveitar a infraestrutura disponível e ajudaria a preservar o meio ambiente. Em nenhum momento é mencionada a crise hídrica enfrentada (a cidade não tem mananciais próprios e depende do sistema Imunana–Laranjal, já sobrecarregado). Para o grave problema de mobilidade da cidade, utiliza o argumento de que adensamento irá melhorar as condições do trânsito, sem considerar que o aumento da população irá sobrecarregar ainda mais a rede viária da cidade, que tem no acesso à ponte Rio-Niterói um grande gargalo, dado que parte significativa dos moradores da cidade tem no Rio de Janeiro o seu local de trabalho. Essas questões apenas exemplificam a intenção de estimular o mercado imobiliário enquanto prejudica as condições gerais da cidade. Na quarta-feira, dia 15, às 17 horas, haverá uma Audiência Pública na Câmara de Vereadores, em modo híbrido. Muito importante participarmos e exigirmos a realização de Audiências por Região Administrativa, de modo a permitir a participação dos moradores que serão diretamente afetados. Muito importante a presença na Câmara, mas quem não puder, deve acompanhar pela internet e se manifestar. Vamos exigir nosso direito de definir o que queremos para nossa cidade! Facebook Instagram YouTube Assine a petição Pela PROTEÇÃO do Patrimônio Ambiental, Cultural e Cênico de Itaipu! AQUI Leia em mais detalhe sobre o projeto de lei aqui: Relatório da qualidade da água nas Lagoas da região oceânica:
- "This Is Not A Drill" de Roger Waters: uma conversa sobre ameaças reais à humanidade
Originalmente publicado na Le Monde Diplomatique. Escrito por Mirna Wabi-Sabi e fotografado por Kate Izor. Leia sobre o Roger Waters no Brasil, em 2023, aqui. A nova turnê norte-americana de Roger Waters, “This Is Not A Drill”, que começou em Pittsburgh dia 6 de julho, não tem uma mensagem — é uma conversa. O show é um convite de Waters para se sentar ao lado dele como num bar e ter uma conversa séria sobre o amor, a vida, o desespero e como as pessoas no poder estão destruindo a humanidade. O poder, aqui, não é discutido em termos de partidos políticos, os democratas estadunidenses não são poupados do escrutínio, e todos os líderes mundiais das superpotências são pintados no mesmo tom: criminosos de guerra. Para um artista com uma carreira de meio século, Waters mostra que acompanha o cenário mercurial do entretenimento e da tecnologia, ao mesmo tempo que está abertamente desinteressado em usar essa capacidade para seguir tendências. Ele forja seu próprio caminho musicalmente, visualmente e politicamente — sem pé atrás — como tem feito desde os anos 60. Este caminho autêntico não é uma imposição ou uma palestra. Em vez disso, ele pede ao público que se envolva em séria reflexão e debate sobre ameaças brutais à raça humana e à dignidade humana. Como em amizades às vezes há discordância, o vínculo entre ele como artista e seu público não é baseado em ter as mesmas opiniões, mas em compartilhar sentimentos profundos, especialmente diante da miséria. Se você não está disposto ou desposta a conversar sobre a tragédia a qual a humanidade é submetida, e os indivíduos e instituições responsáveis por essa tragédia, não apareça. Dito isto, a opinião política explícita não exclui membros da audiência com visões divergentes. Na verdade, é explicitamente inclusivo, e não acolhe apenas os fãs do Pink Floyd. Mesmo que você nunca tenha ouvido Pink Floyd (sei que é difícil imaginar isso, mas é possível), ou não saiba nada sobre eles, aqui está uma oportunidade para uma introdução. O show abraça e celebra pessoas de todas as raças, etnias, gênero e identidades sexuais, além de defender ferozmente o direito de cada grupo marginalizado de viver e prosperar. Por causa desse equilíbrio entre nostalgia e questões contemporâneas cruciais, essa performance fala com pelo menos três gerações, de jovens adultos a seus pais e avós. A crítica social não é sutil quando aborda questões de colonialismo, violência policial, sanções, mídia social, nacionalismo, racismo, disparidade de riqueza, patriarcado e assim por diante. Mas como crítico, Roger faz mais do que detonar — ele procura construir comunidades, unidade e respeito pela vida humana em toda a sua diversidade. Embora algumas pessoas possam ser vistas fechando a cara ao ler “Direitos Reprodutivos” no telão, você pode ter certeza que os verá emocionados cantando Eclipse poucos minutos depois. Não é novidade que a política de Waters tem incomodado muitas pessoas, ele sabe disso e aborda a questão abertamente. Aqueles que pensam que a falta de apoio de Roger a Israel significa que ele é anti-semita, por exemplo, verá que esse show não apenas reforça sua posição pró-Palestina, mas também mostra como sua postura não é nada além de radicalmente hostil ao fascismo. Se você estiver aberto ou aberta para essa conversa, verá que há um acordo sobre como combater o fascismo é imperativo, e questionará não só como essa ideologia se manifestava, mas também como ela se manifesta agora. Hoje, quem detém o poder e massacra, vigia e desmoraliza pessoas inocentes? Se você se permitir participar dessa conversa, verá que a opinião imutável dele sobre essa pergunta é: o Exército dos EUA, a polícia, os políticos encarregados deles e os ultra-ricos que manipulam esses políticos. Numa tentativa de evitar spoilers, o visual e a configuração única do palco só podem ser descritos como espetaculares, e momentos “uau” são introduzidos continuamente ao longo do show, mantendo milhares de pessoas todas as noites à beira de seus assentos. Os solos de guitarra e cantoras de back-up gratificam qualquer fã obstinado do Pink Floyd e os inspira a cantar junto. Enquanto os fluxos dinâmicos da set list, sem mencionar os fantásticos solos de saxofone, fazem qualquer pessoa interessada em música dançar. Acima de tudo, a presença icônica de Roger Waters no palco é feroz e calorosa. Ele é íntimo e sincero, mas também severo e autêntico. Prepare-se para os extremos entre afeto e merecidos “foda-ses”, e especialmente, para sua voz maravilhosamente familiar compartilhando algumas das músicas mais adoradas de todos os tempos. _______ Por Mirna Wabi-Sabi